Eles Vivem (They Live – John Carpenter, 1988)


Uma que é o filme mais charmoso do mundo. Dos diálogos (“Vim aqui mascar chicletes e chutar bundas, e meus chicletes acabaram”) a cada uma das cenas (Nada encontrando os óculos, Nada descobrindo como os óculos funcionam, Nada surtando com a 12 e caçando os alienígenas na rua, etc) Eles Vivem é talvez o representante mais classudo e indefectível do cinema B. Tem um bilhão de ideias e conceitos sendo trabalhados (desde a ironia com o consumismo e o capitalismo e o apocalipse sendo gerado através deles até a relação entre filme e a própria carreira de Carpenter, um brutamontes caçando alienígenas é provavelmente a verbalização de tudo o que o restante trabalha nas entrelinhas), um esquema narrativo absolutamente fantástico, uma noção de ritmo que não encontra parâmetros em nenhum outro filme (o único filme que possui uma cadência tão precisa quanto a de Eles Vivem é Rio Bravo), é um filme que desliza, flutua de cena em cena com uma facilidade assustadora – a trilha sonora nesse sentido é um achado também, a maneira com que Carpenter vai conduzindo o filme através dela, mais ou menos como o baixo faz no blues (o Kerr ex-multiploteiro e atual tocador de batuques  em noites paulistas já diria que Eles Vivem é um blues filmado, melhor definição impossível), enfim, é uma fonte inesgotável de coisas geniais sendo trabalhadas por debaixo dessa aurea de filme B, de filme tosco, de filme vagabundo, mas que na verdade tem mais a dizer, tem mais classe cinematográfica, tem mais observações brilhantes (“this is our god” refletido num maço de dinheiro!!!) do que qualquer filme pretensamente político do cinema contemporâneo. É um filme onde Carpenter constrói um mundo e rui inteiro na nossa frente, um filme em que ao herói só resta chutar a bunda de tudo e de todos, um legítimo filme do caralho.

4/4

Daniel Dalpizzolo

8 Comentários

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8 Respostas para “Eles Vivem (They Live – John Carpenter, 1988)

  1. Fiquei uns cinco minutos para entender: “Nada encontrando os óculos, Nada descobrindo como os óculos funcionam, Nada surtando com a 12 e caçando os alienígenas na rua, etc”. Não, eu nunca vi o filme, e não sabia que o personagem se chamava ‘Nada’. Tive que ir no CP para descobrir.
    :D

  2. Caio

    Oow, ótimo texto Dan. Não é preciso buscar mais em lugar nenhum o que ler sobre o filme. Taí a análise definitiva. hehe

  3. bleu

    “They Live” é ao lado de “The Thing” o melhor filme do Carpenter

  4. Outro filme obrigatório e sensacional! Aliás na década de 80 o mestre fazia obras-primas brincando, putamerda!

  5. Djonata Ramos

    é tipo um jogo muito animal de videogame. é fodão.

  6. Prof. João Valente de Miranda

    Comento este filme em: http://www.webartigos.com/articles/35845/1/A-ALIENACAO-DE-TODOS-NOS-DENUNCIADA-EM-FILME/pagina1.html
    e ficaria muito honrado com a leitura dos leitores deste site. Clique ou cole o link em sua barra de endereços. Muito obrigado [JV].

  7. Alecsander

    Assisti a esse filme umas semanas atrás, e realmente é um filme espetacular, eu digo sem medo que não tinha visto um filme tão inteligente desde 2001 – Uma Odisséia No Espaço. Esse filme é a melhor abordagem sobre alienação que eu já vi. Um cara do interior chega na cidade grande (Los Angeles), vê um mundo dominado pela pobreza, violência e desigualdade social, onde sem conseguir um emprego ele acaba morando em uma favela aos arredores da cidade. Em sua estada na cidade, existe um grupo de pessoas que transmitem mensagens piratas de alerta a uma suposta dominação global, mas que não recebiam a atenção do publico, ate o dia em que o protagonista encontra um óculos que mostra que muitos dos humanos que convivem com nós são na verdade alienígenas, e que eles dominam toda a mídia. Dai já viram, um suspense de primeira, ficção de ação mais inteligente já feita.

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