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Mortal Kombat – O Filme (Paul Anderson, 1995)

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Um dos cineastas mais “malditos” que temos hoje em dia se chama Paul W. S. Anderson. Por favor, não confundir com o renomado Paul Thomas Anderson, ou PTA, diretor de filmes cults como Boogie Nights, Magnólia, Embriagado de Amor e Sangue Negro. Paul W. S. Anderson é um diretor de filmes mais comerciais, e no início de carreira se chamava simplesmente Paul Anderson. Teve relativo sucesso em seus primeiros filmes, mas atualmente não é bem visto e cada novo projeto dele anunciado é muito criticado logo de cara. Isso devido mais aos seus dois últimos e “polêmicos” trabalhos: Resident Evil – O Hóspede Maldito e Alien vs Predador. Ambos renderam nas bilheterias, mas sofreram duras críticas. Resident Evil é baseado no famoso jogo de zumbis da Capcom, e desagradou muitos fãs do original, por não conter o mesmo grau de suspense; e Alien vs Predador resultou num filme “infanto-juvenil” demais, a ponto de nem ter muita violência, destoando demais das duas famosas franquias. Particularmente, não acho nenhum desses dois filmes propriamente ruins e nem tão bons, mas decepcionaram muita gente, e acabaram decretando a má fama do diretor. De qualquer forma, Paul até que acertou no seu primeiro projeto, Mortal Kombat – O Filme. Uma adaptação do famoso jogo de videogame.

Uma discussão recorrente que temos é quanto uma adaptação para cinema tem que ser fiel a obra original da qual se baseia. Muitos dizem que tem que haver um respeito pelo original e por isso o filme tem que ser fiel ao máximo, enquanto outros dizem que o diretor tem que ter liberdade total, então a fidelidade não é necessária. Claro, que muito dessa discussão se refere a filmes baseados em livros e HQs, mas em relação a um jogo de videogame, até que ponto tem que haver essa fidelidade? Essa dúvida não existiu durante muito tempo,  já que jogos eletrônicos não eram adaptados para cinema, simplesmente porque na maioria das vezes, eles nem tinham histórias tão bem desenvolvidas assim, que servisse de base para qualquer coisa. O sucesso de um jogo dependia mais do carisma de seus personagens e pela parte técnica em si (gráficos, sons, jogabilidade, dificuldade), isso gerou uma grande falta de interesse dos produtores e cineastas para esse tipo de “arte”. Mas no começo da década de 90, época em que reinava os videogames de 16 bits de 4ª geração (Super Nes e Mega Drive), finalmente, quatro jogos famosos iriam ser adaptados para as telonas: Super Mario Bros, Street Fighter, Double Dragon e Mortal Kombat. Os três primeiros fracassaram totalmente, e acabaram caindo na mesma armadilha: Tentaram pegar o que o jogo tinha de melhor que eram os personagens, mas colocá-los em outro contexto, trazendo história que muito pouco lembrava o jogo original (mesmo porque esses jogos nem história tinham). Com isso, presenciamos Mario e Luigi indo parar num universo paralelo onde estranhamente os dinossauros é que evoluíram e não os humanos; ou um Jean Claude Van Damme, interpretando Guile, personagem coadjuvante do jogo, que se transformou no principal do filme onde M. Bison era ditador-presidente de um país em guerra-civil; ou os irmãos “gêmeos” Jimmy e Billy Lee lidando com… com o quê mesmo? Enfim. Nenhum deles conseguiu criar algo minimamente interessante pra quem não conhecia os jogos, e quem conhecia não se identificou em momento nenhum com o que estava sendo mostrado lá. Mortal Kombat, que veio depois destes, resolveu ir pelo caminho oposto, se limitando a filmar a simplória história do jogo, sem maiores malabarismos. Não que seja algo vital numa adaptação, mas nesse caso aqui a fidelidade com o original se mostrou importante para se montar uma base, por onde o filme iria se sustentar.

Falando do jogo, para aqueles que não o conhecem: Mortal Kombat surgiu em 1992. É um jogo de luta, em que dois personagens entravam numa arena e, através de vários comandos específicos do jogador, executa golpes que tentavam derrubar seu adversário. MK se diferenciou de outros títulos desse gênero na época por dois motivos básicos: 1) Realismo. O jogo se propunha a ser realista, já que os personagens eram imagens digitalizadas de atores reais. A gente via pessoas na tela lutando e não “desenhos”; 2) Violência. O sangue que rolava solto a cada vez que o lutador era acertado por algum golpe do adversário, e no fim de cada luta, o vencedor poderia matar o perdedor. Isso fez com que o jogo causasse uma enorme polêmica, chegando a ser censurado em algumas das suas versões. Videogames eram vistos como coisa de criança, então pela lógica do pessoal mais conservador, nenhum jogo poderia conter tanta violência assim. Com isso, para Mortal Kombat II, os realizadores mantiveram toda essência do jogo original, mas resolveram zoar toda essa polêmica que MK causou e foram incluídas coisas como “Babality” e “Friendship”. Um desses golpes consistia em poder transformar seu adversário em bebê, e o outro em fazer uma brincadeira estúpida com o lutador perdedor. Ou seja, o realismo e a violência continuaram mas com uma pitada de sarcasmo. Perfeito. Só que depois disso a série, a partir de Mortal Kombat III, foi caindo gradualmente, e hoje, nem de longe tem o mesmo respeito. Virou jogo de criança mesmo, enquanto o público que gosta de coisas mais polêmicas vai atrás de jogos como GTA e Counter-Strike. O filme não causou a mesma polêmica que o jogo, mesmo porque não veio com a intenção de ser polêmico, mas tem violência e certo realismo, no sentido de que tudo mostrado ali não é tão absurdo, mesmo dentro de um universo altamente fantasioso.

Liu Kang, Sonya Blade, Johnny Cage, Scorpion, Sub-Zero, Kano, Rayden, Reptile, Goro e Shang T. Sung. Todos esses eram os personagens do jogo Mortal Kombat, e que aparecem também na sua adaptação de cinema, mas ao contrário das outras adaptações citadas, aqui se tem basicamente a mesma história de antes, mesmo que essa não seja grande coisa, afinal tudo gira em volta do famoso torneio Mortal Kombat, torneio esse que vai decidir o destino do planeta Terra. Nada mais além que isso. A maior liberdade que o diretor tomou em relação à história foi acrescentar certos elementos do segundo jogo da franquia, Mortal Kombat II, como a presença dos personagens Kitana e Jax, e o misterioso mundo de “Out World” entre outras coisas. Então, para quem não conhece ou não gosta do jogo, o filme pode não ser nem um pouco atraente, e não seria atraente de qualquer forma, mas para quem jogava e conhecia aquele universo, tudo funciona muito bem. E é bem curioso comparar Mortal Kombat – O Filme com Resident Evil – O Hóspde Maldito, duas adaptações de videogame realizadas pelo mesmo Anderson. No MK, ele tentou seguir o jogo mais à risca, e no Resident, acabou tomando certas liberdades se baseando pouco no original, tentando fazer o filme trilhar um caminho próprio. Ele acabou agradando mais em um e nem tanto no outro. MK se beneficou de algumas coisas como o jogo ter caído nas graças da gurizada daquela época, e tendo esse público como alvo, não foi tão cobrado assim. Ninguém esperava um “grande filme”, mesmo porque as outras adaptações de videogames que saíram antes, decepcionaram muito. MK se encaixou muito bem no que se propusera naquele momento. Já Resident, tinha um público um pouco mais velho, que passou a jogar videogames a partir do momento em que eles se tornaram mais sombrios e realistas. É um público mais exigente que não aceita certas coisas, e assim muitos esperavam um filme de zumbi à lá George Romero, mas receberam um filme bem mais ameno. Talvez a pior coisa na comparação direta desses filmes é ver que o diretor Paul Anderson não evolui como diretor de um filme para outro. Ambos, mesmo dentro dessa diferença em ser mais ou menos fiel que o original, tem esse mesmo clima de filme “pop-adolescente”, que acabou sendo a marca registrada dele e o que o faz ser tão criticado.

Uma coisa que se pode dizer de Paul W. S. Anderson é que, apesar dos pesares, ele não é o pior cineasta do mundo, afinal, três dos seus maiores sucessos comerciais, Mortal Kombat, Resident Evil e Alien vs Predador ganharam continuações, dirigidas por outras pessoas, e todas são inferiores aos filmes originais (apesar de não ter visto Resident Evil 3 e Alien vs Predador 2, mas não ouvi coisa boas deles), principalmente, a continuação desse aqui, Mortal Kombat – A Aniquilação (John R. Leonetti, 1997), simplesmente “inassistível”, em todos os seus aspectos. Então, têm muito diretor pior que ele por aí, com certeza. Paul tem certa competência, pelo menos quando vai idealizar um filme, ele surge com boas idéias, o problema é que ele não consegue manter essa boa idéia até o fim, tudo vai caindo no meio do caminho, e os filmes se perdem. E nem se perdem tanto, mas ficam bem longe do que se imaginava deles no início de tudo (com Resident Evil e AvP aconteceu assim). Esse aqui foi o filme dele que menos se perdeu no meio do caminho, mesmo porque não eram necessários grandes malabarismos para agradar o público alvo. Todos queriam basicamente um filme que agradasse respeitando o conceito simples do jogo original, e isso o filme consegue fazer, sem muito esforço. E depois de tanto tempo, Mortal Kombat – O Filme ainda é o melhor filme baseado em um jogo de videogame (mesmo porque nenhum grande filme surgiu daí), e também o melhor filme diridido por Paul W. S. Anderson (idem).

3/4

Jailton Rocha

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