Lisa e il Diavolo é a alegoria substancial da perdição humana, entregue e rendida num pesadelo paralelo aos feitiços de um manipulador mais terrível, mais pervertido e articulado, cheio de um bom humor como manifestação quase sexual do seu talento: Mario Bava.
Se o senso comum nos traz os autores sempre como deuses onipotentes de seus mundos, Bava faz questão de ser o diabo, e na verdade é próprio desses italianos a exploração basicamente da mesma história de personagens jogados num labirinto de lâminas e de sangue sem outra saída possível que não seja o próprio inferno, e por isso que Lisa e o Diabo é tão impressionante, tão diferente. Banho de Sangue, Terror nas Trevas e até Tenebre são todos exercícios pulsantes de inventividade, documentos de apologia total à criatividade e à imaginação acima de todas as coisas, mas é em Lisa e o Diabo que Bava se volta totalmente para a própria obra, desvelando com um olhar interno sobre os mecanismos, artifícios e engrenagens deste discurso de absolutismo autoral.
É a partir deste princípio que Bava construiu aquela que provavelmente é a mais perfeita síntese da ação de um criador sobre suas criaturas, divertindo-se ilimitadamente, como antes e como outros, num universo próprio onde todos os personagens são marionetes à mercê da mais pura, da mais perfeita e mais nuclear definição que se pôde algum atribuir à liberdade. Queimem o que os poetas escreveram, Bava celebra o próprio poder em cada centímetro quadrado da sua obra-prima. São pouco mais de 90 minutos transcorrendo num universo onde o tempo inexiste. Uma atmosfera de cores e de luzes que se amplifica e se desconstrói pelas ordens do mestre. E é uma composição mais deslumbrante que a outra, um plano mais cuidadoso e obsessivo de quem se viu apaixonado pelo seu próprio cinema.
Lisa e o Diabo é uma ode, uma ópera de Mario Bava a si mesmo e à vazão ininterrupta da maldade que no plano da imaginação e do teatro é finalmente livre para fluir conforme o paladar carnívoro do demônio que uns preferem esconder, outros, celebrar sob os ritos sangüíneos de um verdadeiro estupro cinematográfico.
4/4
Luis Henrique Boaventura
precisarei conhecer mario brava para poder acompanhar seus posts…
apropriei-me da idéia dos screenshots, ok? xD
[]
Tranqüilo, é pra se apropriar mesmo. o/
E todos precisam. Não pra acompanhar meus posts idiotas, mas porque o cara é puta que pariu de foda, e Lisa e o Diabo tá entre os 20 maiores de sempre.
Recém terminando Fulcci…
Bava na fila.
Qual Fulci? :B
Beyond, Zombie, Pavor
por enquanto é o que já chegou.
Deixei The Beyond por último, para o final de semana.
Gostei bagaraio de Zombie e em Pavor ele me pareceu meio sem vontade de dirigir… talvez não devesse ter visto os dois quase um atrás do outro
Falta ver Zombie ainda.
Mas Pavor é tri foda. Só acho que o final não corresponde em expectativa pelo crescente alucinante em que vinha o filme, mas adoro. E tem a melhor morte do cinema, atestado em vídeo da criatividade inalcansável desses italianos.
E Terror nas Trevas é a grande op dele, um dos maiores filmes do mundo.
Gênero número e grau.. concordo com o final. Achei Zombie mais fodal, mas a cena de morte a que você se refere eu não acho que vá surgir outra igual – a lasca de madeira perfurando o olho em Zombie é alguns níveis inferior, mas melhor do que maior parte das cenas de morte que eu já vi no cinema..
Obra-prima, sem dúvidas. O desfecho de Lisa e O Diabo é um dos melhores que eu já presenciei.
Que texto lindo, concordo com tudo que vc disse! “Lisa e o Diabo” é meu filme de terror favorito, junto de relativamente parecido “Rosas de Sangue” de Vadim