Sério, é anormal a forma que esse velho consegue em certo ponto de seus filme, em algum momento qualquer, e provavelmente de forma totalmente variável de pessoa pra pessoa, injetar aquela sensação azeda diretamente no íntimo, no músculo principal, deixando ele totalmente pesado e enrugado. Geralmente pelo excesso de humanização, de transbordar a emoção na tela de uma forma que poucos conseguem filmar tão bem quanto o Clint. Mas a diferença aqui em relação aos outros dele é justamente esse tom de despedida que ecoa durante o tempo todo, a imponência sendo substituida pela impotência, na verdade essas duas travando uma batalha épica que óbviamente teria um fim dramático.
E realmente aquele final é sem dúvidas o revide mais lindo da carreira dele, onde poucas vezes o sangue foi derramado de forma tão poética e doce. É sem explicação o que aquela cena causa, na hora tu sabe que ta de frente com um daqueles momentos sem volta, onde só um matador calejado conseguiria filmar com tamanha sensibilidade o que tudo aquilo representa. E é aí que o real sentido dessa arte se manifesta, a possibilidade de enxergar com os olhos de outros, se tornar um observador passivo da situação, como se tivesse por de trás de qualquer uma daquelas janelas, ou becos, etc, e sofrer junto. Observando o que tanto falam como a descontrução do ícone, e talvez até seja a mesma coisa, mas eu vejo como uma humanização dele, ou até como a lágrima final do Clintão, do Clintão matador. É o momento de redenção mais belo que eu já vi no cinema, e não falo apenas do personagem do filme, mas toda persona cinematográfica dele podia ta simbolizada ali.
É lindo demais, cara. E é tão lindo pq esse filme não poderia ter sido feito por ninguém mais, e em nenhuma outra época. Só alguém com a vivência do Clint, e a história cinematográfica dele, poderia causar essa explosão na tela. Poderia ser o encerramento perfeito de uma vida, espero que não, mas poderia ser sim.
4/4
Thiago Duarte
ou: Gran Torino (Clint Eastwood, 2008) – Adney Silva – 4/4