A Noiva Era Ele (Howard Hawks, 1949)

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Não é novidade alguma dizer que Hawks era alegórico e tremendamente anárquico quando o assunto é narrativa cômica, mas às vezes ele se passava. I Was a Male War Bride pode ficar bem distante de ser o mais engraçado surto do diretor – lembrando que falamos do responsável pelo mais veloz e exaustivo esguicho de piadas por segundo já filmado, é mais do que natural que jamais consiga repetir o mesmo feito -, mas temos uma situação inusitada trabalhada da forma mais dilatada possível, quase que lutando contra sua definição, num processo orgânico e visível de abstração.

Pode-se dividir o filme em uma série de esquetes, sempre concluídos com um pequeno e insano exercício de descontração, mas é difícil determinar o que, afinal, conduz a aventura. Se nos basearmos no que Hawks utilizou como título – também alegórico, vale lembrar – perdemos uma hora de material ao limbo. É, acima de tudo, uma câmera a acompanhar o processo de apaixonamento de dois militares durante a segunda guerra mundial, seguido das dificuldades que ambos encontram em transar depois do casamento, já que a moça é recrutada… pronto, tentei por alguns segundos, mas quase conto o filme todo.

Mesmo para uma comédia de época, I Was a Male Bride War é lento e irregular em boa parte de seu tempo, mas jamais perde charme, vida. Hawks tem o perfeito timing cômico das screwball comedys, e quando a coisa aperta, quando se precisa de humor, sabe como e quando fazer. Como na maior parte dos filmes do diretor, há a fuga completa das ideologias, a não ser das pessoais. Pinta-se a guerra como painel de fundo, mas tão abstrato quanto a própria linha que conduz o romance. É um Cinema à margem de tudo, vivendo seu próprio universo.

E que outro universo poderia ser tão apaixonante quanto aquele em que Cary Grant, desiludido pela perda de sua noite de lua-de-mel e exausto por não encontrar lugar para dormir, precisa se alistar como noiva de guerra e se travestir de oficial americana para poder, finalmente, passar uma noite junto da esposa? Se a guerra é uma piada para Hawks, é também o lugar perfeito para que desfile alguns de seus fetiches mais bizarros.

3/4

Daniel Dalpizzolo

1 comentário

Arquivado em Comentários

Uma resposta para “A Noiva Era Ele (Howard Hawks, 1949)

  1. vebi

    um comentário para você xuxu… já que não existia nenhum. beijoca xD

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